O que não fazer no cinema: um guia para leigos e sem-noção
O que não fazer no cinema? Este é um manifesto telepaticamente assinado por mais de 30 milhões de brasileiros que estão seriamente considerando fazer ocrowdfunding de um livro chamado “Boas Maneiras no Cinema: um guia para leigos”, que eu, autor célebre deste mesmo texto, escreverei. Portanto, aqueles que se identificarem com a causa, se ponham telepaticamente em contato para aumentarmos esta conta – que não é suíça, tucana ou investigada por CPI.
Piadas à parte, você, caro leitor entusiasta ou apaixonado pela sétima arte, sabe do enorme desconforto que tem sido assistir a um filme em um cinema ultimamente. Deixo claro aqui, desde já, que não se trata de um texto a ser incluso na temática white people problems.
Evidente que não se propõe a superar a importância de tantas questões sociais que temos todos, como sociedade, de tratar. O enfoque aqui, no entanto, é cultural – e como a influência do digital vem modificando antigos, mas ainda atuais, hábitos, elementos do ethos ocidental, sobre o qual podemos falar.
Antes de começarmos, um recado aos elitistas de plantão: boa educação independe de classe social. Os comportamentos que descreveremos foram observados em salas de cinemas em diferentes localizações e frequentados por pessoas de variadas classes sociais. Poupe-nos do seu preconceito burro e se eduque também – porque a gente acredita na educação.
“O que não fazer no cinema?”
Whatsapp, Facebook, Swarm…
Antes de começar, faço aqui um apelo: usuários de Android, por favor calem seus pássaros irritantes antes do começo do filme, pelo amor de tudo que é bom. O toque padrão deste OS para o Whatsapp soa como um assobio estridente e sempre resolve surgir em momentos de tensão/drama/qualquer-outro-de-grande-importância-para-o-enredo.
Primeiro passo: telefone no silencioso, por tudo que é mais sagrado. A amizade pode esperar. Se você precisa tanto falar com alguém, dê uma saidinha da sala, resolva seu assunto e volte.
Dica: ninguém está a fim de saber onde você está a cada minuto. Em vez de dar check-in no cinema, convide as amigas e amigos para irem com você.
O canhão de luz
Você certamente já viu filmes estadunidenses em que um casal dormia (ou fazia coisa melhor) em um carro, quando é surpreendido por um policial, que por sua vez lhes apontava uma lanterna muitíssimo forte no rosto para que a situação acabasse por ali. Pois é exatamente assim que se sente a criatura que quer assistir seu filme em paz quando, de repente, é cegada invariavelmente por um celular com o brilho ajustado no máximo de sua potência.
A cura segue por aqui e é facilmente exemplificada a partir de nosso dia-a-dia. Pergunte a alguém que parou de tomar a versão padrão de um refrigerante e passou a tomar a versão diet e ela lhe dirá “É um caminho sem volta, não me vejo mais tomando tanto açúcar”. Exatamente assim é com a luminosidade de seu celular: no começo vai ser estranho não ter um canhão de luz de balada sertaneja apontado para os seus olhos, mas, como diria minha avó, “depois passa”.
Comentaristas, videntes e intelectuais pedantes
Existe um espaço destinado às premonições, comentários e teorias de conspiração sobre todos os filmes, e ele se chama O Bar Mais Próximo. É um lugar superlegal onde há mesas, bebidas, algumas porções de comida e não há limites para o volume da sua voz reverberar.
Portanto, segure o apito durante a sessão, anote palavras-chave no braço e aguarde até o final para dividir seus incríveis, únicos e jamais antes vistosinsights com aquela pessoa especial que você quer impressionar, ok?
Alô?
Não vou me alongar neste tópico por acreditar ser de senso comum aos seres humanos, apesar de ter presenciado recente e frequentemente, várias situações em que lhes faltou esta noção do que não fazer no cinema.
Pelo amor dos meus filhinhos que eu ainda vou ter, nunca, jamais, em hipótese alguma, sob nenhuma circunstância – exceto por morte ou ganhos na loteria –, atenda o seu celular durante um filme.
É urgente? Está esperando aquela ligação do emprego dos sonhos? Pois bem: coloque-o no bolso, saia educada e lentamente da sala e, não menos importante, passe pelas portas da sala antes de dizer alô.
O amor é lindo, mas… parem
Amores do Brasil, vamos lá: amassos no cinema são exclusividade de (pré) adolescentes e vamos explicar por quê:
- Eles são adolescentes;
- Eles não têm outro lugar para ir;
- Eles precisam do escuro porque estão aprendendo a beijar – e embora muitos adultos ainda precisem aprender, já perderam a licença poética para fazê-lo no cinema
- Os pais não os deixam sair para outro lugar e muito menos à noite;
- Eles são adolescentes (de novo);
- A não ser que você seja um fã de Crepúsculo e outras franquias do tipo, eles jamais vão te incomodar, porque vocês não vão estar na mesma sala;
- Você, maior de idade, pode ir a um motel e resolvera aridez do seu ser por lá. Ponto.
Portanto, se você não tem de 12 a 17 anos, pare com isso, já. Se for mais novo, vá brincar de boneca. Você que tem 16-17 ainda está em direito, mas já pode injetar mais adrenalina na relação e usar a cama dos pais. E caso seja mais velho, bem, vá viver sua vida adulta.
Atrasadinha básica
Poucas coisas são tão irritantes no cinema quanto alguém que chega – atrasado, claro – exatamente na hora daquele detalhe do início que vai explicar o final do filme. Não custa nada se planejar e sair com antecedência para chegar a tempo de se organizar e entrar na sala antes que o filme comece – nisso ainda se tem de 10 a 15 minutos de trailer após o horário marcado para o filme.
Não sejamos intolerantes, também. Imprevistos acontecem: trânsito, problemas no transporte público, filas enormes e inesperadas, a gente entende. Nesse caso, ainda que seu lugar seja, marcado, o bom senso chama: sente-se o mais próximo possível da entrada, sem atrapalhar quem chegou antes e está prestando atenção no filme.
Só pega fila quem quer
Seus avós e pais vivem dizendo o quanto a tecnologia é surpreendentemente facilitadora, não é mesmo? Pois bem: redes como Cinemark, Itaú Unibanco, Cinépolis, Kinoplex entre outras, vendem ingressos online pelo site da Ingresso.com.
Lá, além de entradas, pode-se comprar pipoca, bebidas, doces etc – e você ainda pode baixar as entradas para o seu smartphone via app da Ingresso.com. Assim, é só chegar, pegar as guloseimas e ir até a sala.
HAUHASUHAKAJPLRRRROINC
Há quem seja contra, mas sou completamente a favor e tenho algumas razões. Todos temos algum amigo ou amiga que faz qualquer pessoa ter dor abdominal quando começa a rir. No cinema não é diferente.
Aquela cena que não lhe pareceu tão engraçada pode ter surtido um efeito absurdo em alguma outra pessoa que ali esteja, dividindo a experiência com você e por ventura tenha uma daquelas risadas contagiantes que soltam até um leve ronquinho de porco quando se respiram.
Como resultado, você invariavelmente vai rir e, de repente, achar alguma graça naquilo tudo.
Tantas emoções (alou, Roberto) e tantos momentos que não poderia contar nos dedos me foram causados por surtos de risadas assim, de gente conhecida e desconhecida.
P.S.: crianças são crianças. Se não quer o barulho delas (e de adolescentes), procure sessões à noite. Os pequenos também precisam de cultura!
Ah, a farofa…
Não tá fácil pra ninguém, né? A gente sabe. Levar sua própria comida em tempos financeiramente árduos não é e nem deve ser vergonha para ninguém – afinal, não é sempre que se pode pagar 20 reais por um saco de pipoca e um refrigerante.
Mas há que se ter bom senso. Na hora de escolher a farofa cinematográfica, não custa evitar embalagens barulhentas e difíceis de abrir, além de comidas crocantes, “cheirosas” ou gordurosas demais.
Resumindo a ópera
Ir ao cinema é uma das coisas mais prazerosas que se pode fazer para tirar a cabeça dos problemas, se divertir e viver, ainda que por tempo determinado, viver outras realidades e sentir-se parte de uma história.
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